sábado, 21 de janeiro de 2017

Sentir ou não sentir





Tantas vezes me alheio de mim
e mostro um sentir que não é o meu
porque muito do que escrevo, enfim,
não será o meu sentir, mas sim o teu

As palavras deslizam como água do rio,
transmitem o que cada um quer sentir,
há no meu escrever um eterno desafio
para que me digam o que eu quero ouvir

A paixão que se foi nunca foi a minha
quando no poema eu afirmo ter sido,
deixo aos leitores a resposta da adivinha
pois poesia pode fazer ou não, sentido

José Carlos Moutinho


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Chegavas todos os dias




Chegavas todos os dias à mesma hora
trazias no teu olhar o sol do amanhecer
o brilho do teu sorriso era alegria da vida
caminhavas com passos ágeis e vigorosos!

Por onde andarás tu agora, meu amor?

Há tanto tempo que não vejo o teu sol
que sempre me trazias nos teus olhos,
nem o teu sorriso que brilhava em mim!

Gostaria de saber do teu caminhar de agora,
se continuas a ter alegria no teu sorrir
e se mantens o sol a brilhar no teu coração
como antes iluminava o meu…

A saudade, meu amor,
veio hoje visitar-me
ao amanhecer o sol.

José Carlos Moutinho

sábado, 12 de novembro de 2016

Mudanças





Mudam-se os tempos
mas não se mudam os ventos,
mudam-se atitudes
mas não muda a dignidade
que cada vez mais se esconde
por trás da vaidade!

E é um tal vê-los correr apressados
para se colocarem sob as luzes da ribalta
a que não pertencem
e por muita luz que lhes pinte os cabelos
jamais farão parte do elenco
daquela cena da vida!

Mudam-se os actos,
mantêm-se as boas peças do teatro,
porque as da hipocrisia terão vida efémera...
mas o show continuará
com as histórias da vida
em contínuas apresentações,
onde a verdade sempre impera.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Hojé, só hoje





Não...
Hoje não quero ouvir
o chilreio dos pássaros,
nem sequer o rumor
das folhas secas de Outono,
tampouco desejo escutar
o vento que passa silvando...
Porque hoje,
talvez só mesmo hoje,
sinto em mim o perfume da Primavera,
ouço o grasnar das gaivotas
que voam alegremente
vestidas de maresia
e penso no Verão que já se foi
sorrindo-me ao coração
e esqueço o Inverno que há-de vir
porque me entristece a alma...
Hoje sinto-me assim,
perdidamente perdido
em meus pensamentos

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O Pardal






O Pardal

     Era um pardal sem pedigree que, teimosamente esvoaçava entre os seus pares, que, vestidos com as cores dos mais belos rouxinóis o desprezavam. Mas o pardal temerário voava sem parar, cada vez mais, em voos ainda mais altos.
Um dia, todas as doutas aves se reuniram num congresso de diversas cores e raças e, condescendentes chamaram o pardal, dizendo-lhe:
--  Ouve lá ó pardal, foste insistente numa teimosia e persistência invejáveis com esse teu obstinado voar, por isso, analisámos os percursos dos teus voos e decidimos considerar-te um dos nossos.
E todas as coloridas e ilustres figuras aladas, ovacionaram o desengonçado, mas corajoso pardal.
E foi assim que o pardal feio, de asas cinzentas, foi admitido na corte dos privilegiados vertebrados endotérmicos voando alegremente em grupos fraternos, em chilreados de humildade e amizade.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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