sábado, 13 de fevereiro de 2016

Se souberes, amigo






Diz-me tu, meu amigo, se souberes,
a razão da ira deste vento norte
que me sopra em dias de acalmia,
se eu somente quero o sol,
nas tardes cinzentas de invernia.

Quando as noites chegam cansadas,
olho o céu e vejo o luar escondido,
assustam-me as marés desgovernadas
que parecem querer implicar comigo.

Se na verdade me disseres, amigo,
por que o tempo se revolta comigo,
talvez eu consiga viver em sintonia
e esquecer esta provocante ventania.

Se resposta não tiveres, meu amigo,
o que é natural, pois és igual a mim,
que não passo de um átomo perdido
nesta globalidade imensa e sem fim.

Então que venham marés e ventanias,
serei sempre o mesmo louco sonhador
voando pelos céus das prosas e poesias,
até que o viver deixe de ser uma dor.

Inventarei o sol nos dias escurecidos,
nos temporais rirei com as frias águas,
ousarei fazer dos dias entristecidos,
mar, que leve para longe minhas mágoas.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Voei nas asas de um livro





Caminhava eu feliz
pela serenidade da minha vida,
quando de repente, tão de repente
como o sopro do pensamento,
decidi voar pelos céus dos sonhos
e nas asas de um livro,
voei por entre palavras e estrofes,
abracei-me à poesia
adormecida em mim…
E que, de repente, tão de repente
renasceu ansiosa
sorrindo ao sol que a acalentava,
deixando-se levar num voo doce e rápido,
atingiu a lonjura…
Parecia irreal, talvez até surreal!

E as minhas palavras que se ausentaram
por tantos anos do alvo papel,
despertaram da minha distante adolescência,
atreveram-se  numa temeridade inabalável
e…simplesmente voaram…
voaram nas asas de outros livros,
comandados pelo primeiro, com autoridade
e todo o respeito que lhe é devido!

E eu, que de repente, tão de repente acordei
de um sonho nunca sonhado
mas que se tornou realidade,
estou eternamente grato
ao meu primeiro voo
nas asas do “Cais da Alma”

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Bruma de mistérios



Sentado na falésia eu contemplava o mar
os meus olhos perdiam-se no horizonte,
o tempo ia esmorecendo a tarde, devagar
e ao longe a bruma parecia-me uma ponte

Pouco a pouco o mar cedeu à neblina,
deixei de ver as águas da minha fantasia,
triste, enquanto olhava aquela cortina,
surge uma gaivota cantando uma melodia

Trauteava num tom que eu desconhecia,
e trazia-me uma bela mensagem de amor,
de uma mulher que há muito eu não via
e a gaivota ia voando e voava em meu redor

Seria algum mistério escondido na bruma
ou talvez o feitiço do mar que me extasiava,
agradeci àquela névoa vestida de pluma
que me trouxera a gaivota que me cantava

Bruma de alegria, mar da minha saudade
quero estar com os dois uma vez mais,
desejo voltar a sentir de novo a felicidade
antes que o amanhã não me visite jamais.

José Carlos Moutinho

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O perfume das brisas





Quando as brisas tinham outro perfume,
talvez, por que viessem de longínquas atitudes
respirava-se o ar das mariposas coloridas…

Agora, com a confusão dos ventos,
sibilando no desatino dos astros,
instalou-se a confusão nas mentes
e o desassossego dos dias!

Quando eu na quietude do meu sentir,
voava nas asas das minhas utopias
e sorria às flores por onde eu passava,
elas olhavam-me com a ternura
de quem se gosta…
Eu ficava feliz com essa manifestação
simples, como simples é a natureza,
e continuava a voar…
E voava…por que comigo, viajava a alegria
que me forçava a ir mais e mais longe,
até aonde o infinito termina,
ou, talvez, comece, quem sabe…

Já não voo, nem sequer viajo
pelos caminhos da fantasia em mim,
soçobraram-me as vontades,
esmoreceram-me os  suspiros,
murcharam os meus fulgores,
apagaram-se as minhas chamas!

Talvez um dia, retornem as brisas,
mais serenas e com novos aromas
que renovem no meu peito, as esperanças
de me rejuvenescer…
e recuperar tudo o que este tempo me levou.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Bruma do meu mar





A bruma escondia a luz daquele sol
que tentava beijar o azul do mar
e cobria o seu dorso com um lençol
não permitindo o doce navegar…

Um manto cinzento cobria as águas,
antes ondulantes e espumosas
e escondia também as minhas mágoas
nas tardes que se faziam brumosas…

Ai bruma do meu desassossego
vai-te embora e deixa o sol me abraçar,
leva-te junto a esse desapego…

Chama-me ó mar quando tu quiseres,
voltarei aqui pra contigo falar,
teu marulhar diz-me o que tu queres.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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