quinta-feira, 4 de junho de 2015

Coração bravio





Ontem segredaste-me ao ouvido

dizendo que sem mim não vivias,

sorri-te muito comovido

acreditei que assim me sentias

como antes eu te havia sentido.



Abracei-te com ternura e amor,

murmurei-te palavras belas

envoltas em pétalas de cor

do arco-íris das mais lindas telas,

ai mulher, matas-me de calor.



Vamos os dois para aquele rio

refrescar nosso ardor de paixão,

talvez com nosso corpo mais frio

se apague o fogo deste vulcão

e acalme o meu coração bravio.



José Carlos Moutinho

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Noites que chegam






As tardes choram com tristeza,
por que as noites chegam,
trazendo consigo a solidão
e no breu das horas vazias
lágrimas brotadas da fonte da nostalgia
que afogam os soluços da melancolia…

Desliza lentamente o tempo
no desespero calado das insónias
e dos pensamentos que se confundem,
em atropelo entre sonhos utópicos
e atrozes pesadelos…

E a escuridão das noites
tarda em ceder lugar à luz,
o tormento é resiliente à alegria
que, quiçá, venha com a alvorada…

Os olhos cansados
pelas noites desacordadas
vão-se fechando incapazes
de resistirem a hercúleo esforço,
o coração bate exangue
pelo choro que o sufocou
e a alma cansada,
adormece nas cores do arco-íris
da madrugada que acordou.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Suspiros leva-os o vento




Os meus suspiros leva-os o vento
por aí, por mundos sem horizonte,
por vezes tristes na dor do lamento
em busca de águas cristalinas da fonte.

Quando a dor me é mais acutilante,
de mim se compadece o vento agreste
trazendo-me a brisa refrescante
lá de muito longe, do azul celeste.

Calam-se no silêncio do meu peito
as palavras sentidas que queria dizer,
procuro encontrar algum outro jeito
de mudar este meu modo de viver.

E o vento companheiro do meu tempo
murmura silvos de acalmia e amizade,
que o sol d’hoje irá mudar o cinzento
da minha alma, com a cor da felicidade.

José Carlos Moutinho​

segunda-feira, 18 de maio de 2015

E Irracionais são os animais...

Como é possível tanta maldade
neste nosso mundo tão pequeno,
a cada dia vimos a triste realidade
da humanidade com  tanto veneno.

Agridem sorrindo, indefesos animais
como se de grande proeza se tratasse,
somente são possíveis crueldades tais
em gente despida de alma, sem classe.

Nem entendo por que ainda fico admirado
se essa suposta gente maltrata crianças…
vieram a este mundo pelo caminho errado,
não existe nelas nada, a não ser vinganças.

Matam sem dó, como possuídos pelo mal,
têm na alma gelada a cor negra das trevas,
no coração corre o fel de um ódio brutal,
na mente, crescem soltas, daninhas ervas.

Ó gente de malfadada vivência e sem luz
pensai na vossa vazia e efémera vida,
amor é o caminho que à paz nos conduz
vivendo na serenidade é alegria sentida.

José Carlos Moutinho

(Não tive coragem de colocar imagem)

domingo, 17 de maio de 2015

Minhas mãos são duas flores



As minhas mãos são duas flores
pétalas são os meus dedos
coloridos com o vigor da vida
e pela carícia e ternura do sentimento…
As rugas das minhas mãos
são canteiros do meu jardim,
onde eu planto diariamente
mágoas, ternuras, paixões e tristezas
e também cultivo nelas muito amor
ternura e amizades
para que a colheita de afectos
e  partilhas seja profícua…
Nas minhas mãos sulcadas pela vida,
não crescem ervas daninhas
por que o meu carácter
faz nascer das minhas mãos/flores
perfumadas e multicoloridas
pétalas francas, nobres e solidarias!

Quando as flores das minhas mãos
murcharem pela secura do tempo,
peço que as pousem suavemente
sobre o meu corpo inerte,
para que elas renasçam na eternidade,
com a mesma singeleza e sinceridade
com que floriram neste meu tempo!

As minhas mãos sofridas e carinhosas
apertaram outras mãos
algumas negras, outras brancas…
Acariciaram a alegria da vida,
foram sempre fraternas e amigas
jamais violentas ou agressivas…
Pois o jardim de onde elas brotaram
foi uma criação fantástica
dos melhores jardineiros:
Os meus pais.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Mulher Bonita





Não te percebo, acredita
mostras-me cara feia
se tu és tão bonita
a mais linda da aldeia

Escuta o que eu te digo
com toda a sinceridade
desejo estar contigo
minha doce beldade

Se um beijo eu te der
de certeza mais queres
que seja o que Deus quiser
se um beijo também me deres

E no calor da emoção
os corações vão sorrir
com a loucura da paixão
do vulcão que irá explodir

Verás que é fácil amar
é só soltar o coração
deixar a alma cantar
viver em doce ilusão

José Carlos Moutinho

domingo, 10 de maio de 2015

Ribatejo, minha canção





O Ribatejo é uma canção
com a poesia dos trigais,
da terra, o suor faz-se pão
desde tempos ancestrais.

Tens tradições mui nobres
e glórias de egrégia gente,
tens riqueza nos alfobres
e ouro da seara na semente.

Na lezíria cavalga o campino
com paixão pelos touros,
fez daquela vida seu destino
numa dura luta, sem louros.

Na praça, o toureiro arrisca a vida
na cara do valente e nobre touro,
vibra o povo com a faena assistida,
tradição amada como um tesouro.

Nas tuas veias ó meu Ribatejo,
nascidas em terras de Espanha,
correm serenas as águas do Tejo 
em longa viagem, enorme façanha.

Nas suas águas deslizam fragatas
tripuladas por experientes arrais,
há também o fascínio das regatas
nas margens a graça dos canaviais.

Esta é a minha canção do Ribatejo
feita de muitos acordes e melodias
é com muita paixão que eu te vejo
hoje, amanhã e em todos os dias.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Sou folha caduca





Quando as águas que correm serenas
no rio da minha infância
deixarem de me sussurrar…
E as nuvens escurecerem
e o sol se entristecer
e as estrelas não cintilarem
e o luar se recusar a iluminar
e o mar se agitar intranquilo,
talvez estejam a despedir-se de mim…
E se as flores empalidecerem
e os pássaros silenciarem
e as gaivotas deixaram de voar
e as andorinhas não chegarem na Primavera
e o vento deixar de soprar
e os dias se tornem céleres
e as noites eternas,
talvez sintam saudade de mim…

Mas se nada acontecer
do que eu utopicamente desejava,
é por que na verdade
e admito humildemente
que fui brisa ou simples folha
das muitas folhas que por aí voam
insignificantes,
simples e caducas.

Se na minha viagem etérea
puder vislumbrar sorrindo,
todas as coisas materiais
a que antes eu dava valor
e não sentir pena ou falta,
é por que estou realizado na minha essência
pelo que fiz na minha caminhada terrena
e feliz na minha derradeira e eterna viagem.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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