sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Desisto!





Porque as minhas alvoradas perderam o brilho,
Ausento-me…
Do mar que me fazia pensar,
Do luar que me deixava sonhar,
Do sol que me aquecia, nas tardes de nostalgia,
Ausento-me…
Das sombras que as árvores da falsidade oferecem,
Dos chilreios das aves tranviadas,
Dos murmúrios das águas dos rios da inveja,
Ausento-me…
Do colorido esmorecido das flores venenosas,
Que nos campos da intriga, intoxicam,
Ausento-me…
Das multidões que gritam vaidades e calam razões,
Das ruas escurecidas pela miséria engravatada,
Da visão de pés descalços e barrigas ocas, pela fome,
Ausento-me…
Da ausência de fraternidade,
Dos sorrisos que escondem punhais,
Dos abraços que sufocam,
Ausento-me…
Da felicidade, que o tempo secou,
Das alegrias sufocadas por bocas fechadas!

Por tudo isto e mais que não disse…

Desisto…
De caminhar por estradas ocultas,
De entrar em competições desleais,
Desisto…
De querer ser franco, porque a franqueza ofende,
De dizer a verdade, porque não é o que se quer ouvir,
Desisto…
De querer ver o mundo em paz,
De ver igualdade social no meu país,
De ouvir insistentemente os politicos mentirem,
Desisto…
De procurar a felicidade,
que se esconde por detrás das vontades,
Desisto…
De querer estar onde não estou,
Da força, que é subjugada pela minha fraqueza,
Dos meus anseios afogados por contrariedades,
Desisto de sorrir, quando a minha alma chora…

Desisto…
Até que a morte não desista de mim!

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Podes crer, amor (Fado)



As noites eram vazias,
ausentaram-se as horas
cansadas pelos dias
tristes, porque tu choras
D’ausência, que não querias.

Amor, tu és minha eu sou teu,
mas eu não te pertenço,
temos o que Deus nos deu,
com carinho eu te peço,
apaga o amor que me ardeu.

Para que tua tristeza
acabe, e possas sorrir
ouve-me com franqueza,
nosso amor é a riqueza
maior, do nosso sentir.

Felicidade está além,
só temos de chegar lá,
e não haverá ninguém
que nos forçe a vir pra cá,
Podes crer nisto também.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pétalas de poesia





Quando um dia o sol se recusar aquecer-me
e o luar escusar-me o seu manto,
as flores deixarem de me sorrir
e as aves silenciarem-me os chilreios…

Quando um dia falarem de saudade
e quiserem saber de mim,
talvez eu não seja mais que uma estrela,
ou núvem passageira e sonhadora
vagueando pelos céus da poesia
em busca de utopias…

Quando um dia, eu não puder abraçar
um amigo e dizer-lhe da minha amizade,
talvez eu seja somente o pó
que de mim restou, nesta vida de sonhos…

Quando um dia, o meu sorriso se apagar
perdido no tempo da minha existência
e a minha presença deixar de incomodar
mentes frustradas pela minha luta tenaz,
serei certamente a luz que os iluminará…

Quando um dia…
…Eu for nada deste universo
tantas vezes perverso,
desejo encontrar um jardim florido de rimas
onde eu plante metáforas vermelhas de paixão
e colha etéreamente pétalas de poesia

José Carlos Moutinho

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Uma certa Aldeia nos montes





Das arribas do Douro,
sopra gélido, o vento,
ar seco, cortante e puro
e sopra, sopra, num lamento!

O seu frio crispa as mãos,
sulca os rostos como um arado,
invade o silêncio da solidão
daquele inóspito lugar, tão isolado!

E o vento sopra, inexorável,
Penetra pelas frestas das casas em ruínas,
carcomidas pelo tempo,
esse mesmo tempo,
que desertificou aquela pequena aldeia,
perdida no alto da serra,
no meio do nada, que certamente,
tantos mistérios encerra!

Heroicamente, poucos vão resistindo
ao isolamento silencioso,
onde vivem, entre escombros,
que só o silvo do vento
e o ladrar dos cães faz despertar,
para uma realidade fenecida, sem futuro!

As suas almas são fráguas de luta,
aonde a esperança, ainda se aconchega,
porque aos corpos decrépitos,
resta-lhes a força para se arrastarem!

Esta aldeia no nordeste transmontano,
onde meus olhos sentiram muita tristeza,
porque a realidade não era um engano,
meu respeito a este povo de tanta nobreza.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Canção com flor e canela (Fado)



Este sol que aquece a alma
nas areias da praia,
da saudade que acalma
e alegria que distraia
o amor que em mim se espalma.

A brisa acaricia
os meus pensamentos,
prazer que não sentia
desde outros tempos
nesta doce poesia.

Escuto o marulhar
como uma melodia,
será desejo de amar
ou talvez sintonia
na vontade de cantar.

Canto, canto sem parar,
diz-me alegre a ondulação
deste azul e belo mar,
que eu cante uma canção
com um poema de amar.

Criei a estrofe mais bela
com lindos versos de amor
e carinho a pensar nela,
enfeitei com muita flor,
perfumei com canela.

José Carlos Moutinho
*Res.direitos autorais*

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Bate coração (Fado)



Não chores coração meu
fala-me da tua dor
porque o meu sentir é o teu,
se é saudade de amor
não doi, o que já doeu.

Vamos juntos e animados
soltemos nos ventos
nossos ais magoados,
cantemos nossos lamentos
seremos acalmados.

Eu e tu, somos um só
meu coração valente,
se estás triste eu tenho dó,
sem ti, estou descontente
sou nada, tal como o pó.

Bate bate, coração
calmo mas vigoroso,
tens a força de um leão
não sejas temeroso
porque só tu tens paixão.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Navegar em águas de sonhos






Águas cristalinas deslizam docemente
Pelo leito dos seus sonhos,
Acariciam as margens dos seus pensamentos
E cantam melodias pelas cascatas
Dos seus sentimentos!

Pelo seu leito de paixões,
Correm imparáveis os fluidos de amor
Na ânsia de abraçarem as ondas do mar,
Que os esperam no amplexo da saudade!

Navegam suavemente,
Afagados pela brisa dos desejos,
Devaneios e sorrisos de prazer,
Na busca da felicidade
Do amor, sem âncoras!

Na foz da esperança,
Abrem-se marés de acolhimento
No marulhar sereno do mar aquietado
Pelo calor vibrante dos corações!

Na união das águas fluviais, com o oceano,
Explodem os sentimentos contidos
Nas margens da vida
Pelas amarras das desilusões,
E fundem-se na paixão
De um amor liberto,
Que agora solto,
Navega pelo dorso das cintilantes águas
Deste mar que sorri ao sol do porvir.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Minhas mãos, minha Bandeira



Abro minhas mãos calejadas pelo tempo,
delas, soltam-se folhas matizadas de ilusões
que o tempo não conseguiu destruir,
…e as folhas alegres e saudosas voam
sobre as minhas mãos,
deixando cair pétalas de recordações!

Este meu tempo de agora,
plantou nas minhas mãos,
árvores de raizes profundas
de onde as folhas verdes de esperança
se metamorfosearam em realidades!

Mas as minhas mãos vincadas
pelo sol, que acalorou minha vida
abrem-se serenas e gratas
pelos afectos
com que foram contempladas
pelos caminhos dos abraços!

As minhas mãos marcadas
geograficamente pelos rios
de sangue, da fonte da minha essência
E por intensos sentimentos,
são o mapa da minha existência!

Que na minha partida
deste mundo terreno para o metafísico,
as minhas mãos entrelaçadas
sejam bandeira das vidas
material e espiritual
com que fui agraciado.

José Carlos Moutinho

domingo, 2 de novembro de 2014

Viajei pelo mundo (Fado)



Viajei pelo mundo
tanta gente conheci,
com um olhar profundo
muita alegria eu vivi
não sendo um vagabundo.

Vi dor em muitos rostos
pela vida amargurada
por tantos desgostos,
felicidade negada
pelo destino, impostos.

Aceitei sorrisos
e abraços fraternos
em momentos precisos,
que p’ra mim serão eternos
nunca faço juizos.

Muitos outros vi chorar
de alegria ou de dor,
tantos ouvi cantar,
de tristeza ou de amor
p’lo mundo em meu viajar.

José Carlos Moutinho
*Res.direitos autorais*

sábado, 1 de novembro de 2014

Quem és? (Fado)



Não sei quem és, nem de onde vens,
serás folha ou lamento,
diz o que de bom tu tens
serás sopro do vento
ou segredos que em ti conténs.

Tuas mãos são rosas
perfumadas de afagos
suaves mariposas,
olhos teus são dois lagos
teus seios doces prosas.

Ainda não sei quem és
e talvez nunca o saiba,
escondeste os teus pés,
minha acalmia acaba
condeno-te às galés.

Deixaste-me por fim
ver-te inteira e graciosa,
de lábios cor carmin
cara maliciosa
nunca vi um corpo assim.

José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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