Quando as águas que correm
serenas
no rio da minha infância
deixarem de me sussurrar…
E as nuvens escurecerem
e o sol se entristecer
e as estrelas não cintilarem
e o luar se recusar a iluminar
e o mar se agitar
intranquilo,
talvez estejam a despedir-se
de mim…
E se as flores empalidecerem
e os pássaros silenciarem
e as gaivotas deixaram de
voar
e as andorinhas não chegarem
na Primavera
e o vento deixar de soprar
e os dias se tornem céleres
e as noites eternas,
talvez sintam saudade de mim…
Mas se nada acontecer
do que eu utopicamente
desejava,
é por que na verdade
e admito humildemente
que fui brisa ou simples folha
das muitas folhas que por aí
voam
insignificantes,
simples e caducas.
Se na minha viagem etérea
puder vislumbrar sorrindo,
todas as coisas materiais
a que antes eu dava valor
e não sentir pena ou falta,
é por que estou realizado na
minha essência
pelo que fiz na minha caminhada
terrena
e feliz na minha derradeira
e eterna viagem.
José Carlos Moutinho
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