quinta-feira, 20 de junho de 2013

Quimera de um sonho



Acordei melancólico. Para libertar o meu espirito cansado
caminhei por caminhos de solidão, marginados por belas e coloridas flores , que não me sorriam.
Os pássaros que chilreavam, calavam-se à minha passagem.
A brisa que inicialmente me acariciava o rosto, tornou-se seca e árida, numa agressiva pose de hostilidade.
A alvorada que despontava cintilante nos seus raios de encanto, subitamente escurecera.
Tudo conspirava contra mim. A natureza era inimiga do meu passear.
Assustei-me, estuguei o passo, queria sair daquele local o mais rapidamente possível.
A vegetação parecia rir-se da minha figura, ao ver-me em passo de corrida.
Vociferei algo impercetível, preocupado com o que me acontecia.
Era um fenómeno nunca antes sentido.
Muito estranho que eu sentisse a natureza em conflito com a minha pessoa, logo eu que sou respeitador e defensor dela.
Parecia haver alguma coisa de esotérico. Sei lá, sempre ouvi falar de bruxas, podia dar-se o caso de ser acção de alguma, naqueles instantes que me iam deixando atormentado.
Intrigava-me profundamente que os pássaros antes exuberantes nos seus cantos, tivessem inesperadamente emudecido.
Ao lembrar-me do que se passara com a brisa, era demais para o meu entendimento.
Eu estava na verdade muito assustado com tudo isso.
Cheguei às margens de um rio que deslizava silenciosamente pelo seu leito e escutei o murmurar das águas que se faziam melodia quando nos declives, como pequenas cachoeiras mergulhavam com uma elegância na suavidade cristalina das suas límpidas águas.
Sentei-me na margem esquerda descendente daquele encanto fluvial.
Pasmei com o que me sucedia:
Os pássaros trinavam com uma sonoridade nunca escutada em toda a minha vida, eram odes ao amor e à paz e juntavam-se à minha volta, esvoaçando alegremente.
Eu não queria crer no que me era dado apreciar, era belo demais para ser real. Fiquei deslumbrado, estático, como que hipnotizado por tão rara beleza.
As flores de belas e variadíssimas cores tremulavam numa agitação de excitante alegria. Acontecimento jamais imaginado e sorriam no encanto das suas pétalas.
A brisa colorira-se de tons vivos, como os do arco-íris e abraçava-me em movimentos ritmados numa cadência de suave ternura.
Isto não podia estar a acontecer comigo, era demasiadamente irreal para ser verdade. Só podia ser miragem ou o meu estado psicológico estava absolutamente perturbado.
Fechei os olhos, por longos minutos, relembrando o que há poucos minutos me tinha acontecido, na frieza com que fora presenteado pelas flores e pelas aves e agora, tudo isto se desenrolava na minha frente, de maneira tão diferente e fascinante. Não era possível, seria um sonho, sem dúvida.
Mais sereno e convencido de que tudo era realidade, decidi abrir os olhos e, para espanto meu, estava deitado na minha cama, na semiobscuridade do quarto, onde através do cortinado da janela despontavam os primeiros raios de sol da alvorada que amanhecia.
Só a alvorada era real, tudo não passara de um sonho.
Senti-me feliz pela quimera da minha mente e, ao mesmo tempo, frustrado, por não ter sido um acontecimento de verdade.

José Carlos Moutinho
20/6/13

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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